Número total de visualizações de páginas

domingo, 11 de agosto de 2019

AGUIAR DA BEIRA - A CABICANCA - lenda nº 62

Texto e ilustração de Santos Costa 
Conta a lenda que certo dia apareceu na torre da igreja de Aguiar da Beira um enorme pássaro, com um bico tamanhão nunca visto ou contado, ouvido ou sonhado. O povo, horrorizado com a aventesma, deixou de ir à igreja ouvir missa e exclamava:
“Santo Deus! Que bicanca aquela! Que bicanca!”
Aconteceu passar por ali um almocreve de Trancoso, de nome Martinho Afonso e de alcunha o Escorropicha, por ter fama e escama de enxugar uma boa soma de copos de vinho.
Era homem de coragem e porventura lá tinha então o seu copito e achou que aquele era dos tais trechos que lhe podia trazer mordomias e alvíssaras.
Carregou uma espingarda e dirigiu-se para a igreja onde a Cabicanca, indiferente no seu mirante, gozava o seu bocado. O Escorropicha com um olho aberto e outro arremelgado, como regem as leis da balística, apontou alto e com um pum de atroar a Lapa inteira, abateu a cegonha.
 “O Escorropicha matou a Cabicanca!”
Martinho Afonso foi guindado aos píncaros do heroísmo e transportado em ombros por toda a vila. O povo, susceptível de todas as dedicações, estava disposto a compensar o salvador: farnéis de bom chouriço; salpicão de encher sacos; azeite aos almudes; bons odres do melhor vinho; cabritos e leitões e bolsas recheadas.
Passada a história à História, depois da morte do Escorropicha, subsistiu a veneração. O pároco deu em pedir um padre-nosso para alívio da alma do valente, todos os domingos, na ocasião da missa.
Ainda hoje, referindo-se aos habitantes de Aguiar, muita gentinha os apelida de cabicancas, na amálgama da lenda que se tornou história e da realidade que se transformou em ficção.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.