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sábado, 17 de agosto de 2019

BAIÃO - FREI COMILÃO - lenda nº 40

Texto e ilustração de Santos Costa

No reinado de D. João III, havia no convento de Ancede um frade que estava sempre disposto a comer e pouco desejoso de orar. Quando tocava a hora de ir para o refeitório, era sempre o primeiro a chegar e o último a partir, ao contrário do que acontecia no coro.
Era segura e frequentemente repreendido pelos superiores do convento, mas ele tinha sempre a mesma resposta na ponta da língua:
- Muito comer, pouco rezar e nunca pecar, leva a alma a bom lugar.
Em certo dia resolveram os frades mandar preparar uma boa merenda e ir tomá-la para lá de Oliveira. Receando o excessivo consumo e sofreguidão de Frei Comilão, guardaram segredo absoluto e nada lhe disseram. No entanto, parecia que para Frei Comilão não existiam segredos em tudo o que tocava a comida. Possuía um sexto sentido para adivinhar, como se tivesse um dedo adivinho, pelo que logo deu conta da astúcia dos irmãos do convento.
Visto isso, antecipou-se a todos eles e partiu para Oliveira, disposto a encher a barriga do bom e do melhor, uma vez que a merenda já estaria pronta. Quando chegou ao rio e não viu qualquer embarcação que o levasse para a outra margem, despiu o capote monástico, estendeu-o sobre as águas e assim navegou no rio, mau grado o seu corpanzil, remando com as largas mãos.
Quando os outros frades chegaram ao local onde o cozinheiro servia a merenda, em Oliveira, ficaram desapontados com a desfaçatez.
- Muito comer, pouco rezar e nunca pecar, leva a alma a bom lugar - repetiu ele, passando ao estreito um bom naco de carne assada.

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