Texto e ilustração de Santos Costa
Em certo lugar do concelho de Figueira
de Castelo Rodrigo surgiu enorme algazarra. Havia sido cometido um crime de
homicídio sobre um pobre de Cristo sem que fosse visto o tratante que foi o
autor da morte. Houve quem chegasse à conclusão que tinha sido obra de um rapaz
do lugar.
Como o delito tinha sido cometido junto
a um álamo, resolveram castigar o suposto culpado na mesma árvore, majestosamente
preso pelo pescoço por uma corda.
O rapaz teria invocado a sua inocência,
mas os acusadores e carrascos ficaram de ouvidos moucos e as suas consciências
não davam mostras de enxovalhadas pelas razões e súplicas do infeliz.
Quando a corda já afagava o nó de Adão
da inocente criatura, o álamo, considerando um abuso do direito tal julgamento,
começou a fazer-se ouvir através de suspeitas vozes vindas do seu interior,
como se a árvore abrisse manifestamente uma secular tendência vocal.
O carrasco, intrigado com o inopinado
facto, aproximou-se da árvore e increpou-a à laia de juiz que intima a
testemunha:
“Álamo, fala!”
E o álamo falou. Narrou como se tinha
dado o crime à sua sombra e o nome do assassino.
“O criminoso não é esse a quem quereis
apertar a garganta, mas fulano que está nesta hora repimpado em casa a ratar um
salpicão.”
Assim se salvou o rapaz e se castigou o
verdadeiro culpado, graças ao testemunho e à fala do álamo.
Essa ordem – álamo, fala! – ficou
gravada na memória dos moradores que, a partir daí, a deixaram para a posteridade
no topónimo de Almofala.
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