Texto e desenho de Santos Costa
Em Numão existe uma fonte que se chama Fonte do Campelinho, onde parece ter estado uma moura encantada, cuja infelicidade se expõe nesta pequena lenda.
Tendo-se deslocado um habitante da localidade a Roma, para tratar dos papéis de um segundo casamento, aí encontrou uma mulher que lhe entregou três pães, com a incumbência de ele não lhes ferrar o dente e entregá-los às três filhas dela, que eram três mouras encantadas que davam pelo nome de Zara, Cassina e Lira, cada uma em seu lugar. Uma estava na Fonte do Campelinho, em Numão, a outra na Fonte de Santa Clara, em Penedono, e ainda a última na Fonte da Conselheira, em Longroiva. Para lhe pagar o favor, a mãe moura entregou-se um cinto cravejado de ouro e diamantes.
Regressou o homem à pátria e, muito naturalmente, teve necessidade de se hospedar em estalagens.
Numa delas, a proprietária, que era lambisqueira e curiosa, encetou um dos pães, que logo começou a sangrar mal a faca o cortou de um golpe, enquanto se ouviu um grito de dor. Para que o hóspede não desse conta, a mulher recolocou aquele pão junto dos outros dois.
Foi o homem à fonte de Penedono, chamou por Cassina e ela apareceu ao cimo da água, voando para o céu. Foi à fonte de Longroiva, invocou o nome de Zara e esta se libertou de igual modo. Chegou à Fonte do Campelinho e, aí, as coisas não correram bem. Ao pronunciar o nome de Lira, veio à tona da água uma moura, maldizendo a sua pouca sorte em grande choro, por ter de ficar naquela fonte encantada para sempre, sem a perna direita.
O que acontecera? A mulher da estalagem, ao cortar o pão com a faca que pertencia a Lira, tinha amputado a perna da rapariga e condenado a infeliz a um eterno encantamento. Em Numão ficou, em quietude serena e num místico eterno.
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