Texto e desenho de Santos Costa
Nessa terra e em tempos idos, estava uma mulher a lavar a roupa quando ouviu um silvo. Voltou-se e viu uma rapariga em que o corpo se dividia em duas partes: normal da cintura para cima; tal e qual uma cobra da cintura para baixo.
Esta mulher serpente disse-lhe então que era filha do alcaide do castelo de Messejana e estava encantada. Por isso mesmo se saiu a fazer um pedido um tanto ou quanto esquisito. E pediu-lhe para a desencantar:
- Para me desencantares deves ir, sem medo, limpar a baba a um touro que de ti se aproximará, pois este touro é o meu pai, que também se encontra encantado. Se tiveres medo, dobrarás o nosso encanto.
No dia seguinte, encontrando-se a mulher novamente a lavar a roupa, dela se aproximou um touro, escarvando o chão com as patas dianteiras, bufando e babando-se.
A moura tinha recomendado para limpar a baba ao touro, razão essencial para o desencantamento de pai e filha.
Como seria de prever, a mulher temeu-se e esqueceu as recomendações recebidas da mulher serpente no dia anterior. Perante a visão do bravo, ainda por cima a espumar e escarvar, caiu para um lado desmaiada.
Quando foi encontrada, não conseguiu articular palavra para dizer o que tinha acontecido. Não sabia o que se passou, não sabia sequer quem era e onde estava. Não conseguia dizer nada de nada. A partir dali nunca mais recobrou o juízo.
Quanto ao alcaide encantado em touro e a filha em mulher serpente nunca mais se ouviu falar deles, pois o encantamento redobrou e não consta que tivessem proposto nova tentativa a alguém.
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