Texto e desenho de Santos Costa
Uma ala do exército francês, que invadira Portugal correndo em direção a Viseu sob o comando de um oficial de Massena, passou por Gradiz e subiu a Monções, chegando os soldados, verdadeiramente esfalfados, a esta povoação.
Ora, essa subida é puxada e, apesar da belíssima paisagem abundante e luxuriosa, para quem não vai propriamente para a contemplar, é obra. Para aqueles chanfrados que a subiam com mochila, farda, arma, munições e outros apetrechos bélicos, sobrava-lhes o trabalho de pernas.
Ninguém os recebeu em Monções. O povinho tinha recebido intimação para abandonar a aldeia e não deixar para trás migalha que tapasse a cova de um dente dos franceses. Arrombaram a porta da capela e, achando a imagem de Santo António, propuseram levá-la com eles, pois era a única coisa de valor que encontravam naquela desolação. O soldado que retirou a imagem estava a escondê-la, mas o oficial, que era cobiçoso, deu-lhe uma ordem:
- O santo é meu, soldado. Como não há saque nesta aldeia, esse é o único bem que levo daqui.
Ao retomarem a marcha, despertou-lhes a atenção umas cintilações que ofereciam as lajes escorregadias da serra, porque tinha chovido na véspera e os calhaus refletiam os múltiplos regos de água como se fossem espelhos.
Conta a lenda que, amedrontados, julgando-se tratar do exército anglo-luso, largaram a imagem do santo e deitaram a correr pela serra da Lapa como se fossem perseguidos pelo próprio Demo.
O que subsiste da lenda é a confusão dos militares: tomaram as cintilações pelo luzir frio do gume das baionetas e não esperaram pela confirmação, dando às pernas na fuga como se elas não tivessem na conta algumas léguas de subida.
Diz o povo que nesse sítio estão sete fontes que brotam, cada uma, sete fios de água.
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