Uma mulher casada de Freixo de Numão
teve necessidade de amassar o pão e verificou que não tinha água nos cântaros
da casa para aquecer e misturar na farinha. Era meia-noite, mas como tinha
necessidade de ter o pão cozido de madrugada, disse ao marido:
“Olha, homem, não tenho uma pinga de
água para fazer a amassadura do pão. Sei que é tarde, mas tenho que ir à fonte
com o cântaro.”
O homem franziu o sobrolho e disse-lhe,
quase em súplica:
“Olha, mulher, não vás. Agora não
vás!...”
A mulher achou a preocupação do homem
despropositada, fosse ela qual fosse, pelo que teimou em ir e foi. Pegou no
cântaro e dirigiu-se à fonte de chafurdo da Bica.
Quando ia a mergulhar o cântaro na água
da fonte, veio um cão do escuro e rasgou-lhe com os dentes um saiote de baeta
vermelha que levava vestido.
Levou o cântaro mal cheio e correu até
casa, não fosse o caso de o cão voltar a atacá-la. Chamou pelo homem para lhe
contar o sucedido quando reparou, mal ele apareceu, que o marido trazia nos
dentes alguns fios do saiote rasgado.
“Foste tu que me atacaste?”
Para espanto dela, ele disse:
“Fui eu, sim senhor. Tenho o fado de
lobisomem. Se mo queres tirar tens de me picar com um aguilhão, desde que não
me atinjas os olhos. Só então o meu fado chegará ao fim e descansarei de andar
como um lobo a atormentar toda a gente. Em noites de lua cheia, até ao
amanhecer, tenho de me despir no meio de qualquer caminho ou encruzilhada, dar
cinco voltas, espojar-me no chão em lugar onde se espojou outro animal”
Assim foi feito. Na noite de lua cheia
seguinte, a mulher picou-o e acabou com o fado ao marido.
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