Texto e ilustração de Santos Costa
Entre as povoações de
Corvaceira e a de Chãs de Tavares, no concelho de Mangualde, parece ter havido,
em tempos perdidos na memória, um poço de ouro. Supõe-se na lenda que as suas
águas tivessem um tom de amarelo escuro, devido certamente a alguma estranha
composição química, mas a mesma lenda dá-lhe outra explicação.
Aquele poço possuía
grande riqueza aurífera, tanto assim que eram amarelas as suas águas. Quem
retirasse água do poço, levaria consigo riqueza bastante para viver à barba
longa durante toda a vida. Essa perspectiva deixava cada um com desejos de
tentar. No entanto, não era fácil ir lá encher sequer um copo, pois uma moura
mal encarada, toda bem arreada de roupa, brincos e braceletes de ouro, com
corpo de sereia da cintura para baixo, não o permitia ao mais pintado
aventureiro.
Como todos sabiam a
sanha com que ele defendia o tesouro, que devia ser seu, não aparecia uma alma
que fosse a tentar a sua sorte, não fosse ela por lá encantar o timorato e
deixá-lo por ali transformado numa coisa qualquer, sem sopro de vida.
Ora aconteceu que certo
indivíduo achou que podia arriscar a má disposição da guardiã do tesouro e foi
até ao dito poço com toda a vontade e empenho para encher um odre com tal
preciosidade.
Estava ele com a vasilha
praticamente cheia, quando apareceu a moura junto às pedras que se encontram
junto ao poço, as quais, segundo dizem, ainda lá se encontram. O homem, se bem
que fosse corajoso, já ia seguir o seu caminho quando a moura, sem que nada o
fizesse prever, lhe aplicou um golpe com a cauda de peixe. Fê-lo com tal ímpeto,
que logo deixou ali estatelado o ousado aventureiro. E tal foi o impacto desse
golpe recebido, que dele ficou vestígio na pedra maior junto ao poço, o que
ainda se pode confirmar.
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