Texto e desenho de Santos Costa
No vale glaciar do Zêzere, na Serra da Estrela, fica a vila
de Manteigas que, em tempos, teve um rei mouro a governar. Para além de
cobiçarem a região, os cristãos também lhe cobiçavam a filha, pois Fátima
possuía uma rara beleza. Mas chegou o dia em que os cristãos lograram assaltar
o castelo; entretanto o rei fugira com a filha. Nessa fuga andaram pela serra
em busca de um lugar onde pudessem refugiar-se.
Fátima tinha os pés doridos e ensanguentados. O pai, se bem que cansado, era incapaz de abandonar a filha. De súbito, à frente dos olhos de ambos, uma luz jorrou para lhes mostrar um caminho florido e atapetado. Pai e filha seguiram por aquele caminho em direção à luz que provinha de um palácio, onde se encerraram. Esse coruto serrano passou a chamar-se Coruto de Alfátema.
Conta-se que, passados anos, uma mulher pobre de Manteigas, teve de passar pelo dito coruto. Era madrugada de S. João, deu-lhe o cansaço para repousar, altura em que retirou do seu alforge uma côdea para trincar. Era pão seco e rijo. Estava assim entretida, quando olhando para trás de si, viu uma toalha estendida com figos por cima. Deu para comer e encher o alforge, deixando alguns porque não cabiam no saco. Regressou a casa, mas quando foi a retirar do alforge os figos, reparou que; em vez dos figos, havia moedas de ouro. Regressou ao coruto para trazer os que lá deixara, mas não encontrou a toalha com os figos. A voz de Fátima fez-se ouvir:
Era teu tudo o que viste; agora tornaste em vão.
Não passes mais neste sítio nas manhãs de S. João;
Não te perdeu a pobreza, pode perder-te a ambição!