Vivia uma mulher no Castelinho, da freguesia de Santa Clara-a-Nova, e estava a coser um par de meias do marido à porta de casa. Foi então que lhe apareceu a tapar o sol uma mulher que se apresentou como vizinha e que vinha para lhe pedir lume. Esta mulher era moura, tinha toda a pinta disso.
Lá lhe deu o lume, a moura foi embora e regressou depois, para convidar:
“Ó vizinha, venha daí comigo para conhecer a minha casa, que é perto da sua. Vai ver que vai gostar da casa e da vizinhança!”
A convidada aceitou. Pelo caminho, a moura esclareceu:
“Ó vizinha, não se admire de nada nem tenha medo. E não fale em Deus.”
A mulher cristã ficou admirada daquela conversa e até receosa. Mas como já tinha aceitado o convite, seguiu com a outra, que parecia muito interessada em mostrar-lhe onde vivia e como vivia. A casa era debaixo de terra, com uma entrada dissimulada.
Não foi despropositado o aviso da mulher moura, porque apresentou à vizinha cristã uma casa muito bem arrumada e recheada de tudo o que era bom. Havia muito ouro e prata. Quando a moura abriu a porta do quarto para apresentar o marido, a cristã apanhou enorme susto. O marido estava deitado na cama e era um homem com cabeça de lagarto.
“Ai, valha-me Deus!” gritou a visitante.
Fez-se escuro e a moura levou a cristã para fora da casa, dizendo:
“Ai, que dobraste o meu encantamento por mais cem anos!...”
Quanto à cristã, passados três dias morreu de desgosto.
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