Texto e ilustração de Santos Costa
Era o ano de 1310 quando
o rei D. Dinis, na companhia do seu séquito, viajava pelo interior do reino, em
terras de Moimenta da Beira e Sernancelhe. Quando o rei chegou à aldeia de
Adebarros fazia muito calor, pelo que achou por bem repousar na casa daquele
que fosse o mais fidalgo da terra. À falta de melhor, indicaram-lhe a casa do
tio Adão, que era a melhor, e o seu dono ser o mais rico da povoação.
Espantados ficaram os
fidalgos da corte e os camareiros reais quando viram o dono da casa, vestido de
simples burel e com tamancos nos pés, embora nele fossem de notar a franqueza
e o respeito.
Quando o rei pediu água,
pois a sede já apertava, o lavrador de Adebarros prontificou-se a trazer-lha
numa taça de prata. E vinha já na direcção do monarca com a taça cheia, quando
o camareiro-mor lhe interceptou o passo, impedindo o lavrador de fazer a
oferta. Dizia o camareiro que o dono da casa não cumpria aquele serviço com os
ditames e pragmática da corte. Pelo contrário, o lavrador insistia em passar
porque afirmava que o seu préstimo seria do agrado real, mesmo sem etiqueta.
O rei ouviu a altercação
e sabedor da causa que opunha o seu camareiro ao lavrador, ordenou que este o
servisse, como bem desejava. Bebeu a água e soube-lhe muito bem. Depois de
acabar de beber, pergunto ao anfitrião:
- Desde quando és
fidalgo?
- Desde Adão, real
senhor.
- Então, sendo assim, a
vossa nobreza é mais antiga do que a minha – verificou o rei.
- Não, real senhor, porque
Adão sou eu.
O rei apreciou aquela
saída e tratou de dar para o lavrador e descendentes, o foro de fidalgos da
casa real. Desde então, até aos nossos dias, todos os primogénitos desta
família tiveram o nome de Adão.
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