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domingo, 12 de janeiro de 2020

ABRANTES - POR CIMA E POR BAIXO - lenda nº 36


Texto e ilustração de Santos Costa

Em Abrantes existia um casal que parecia ser muito feliz. O homem dizia bem da mulher e a mulher não dizia mal dele. Não se ouviam discutir, estava tudo aparentemente muito bem como se aquele fosse o par ideal.
No entanto, alguém andava a dizer ao marido que a mulher era uma bruxa, mas o homem não acreditava.
 - Ela é tão boazinha que me leva o chá à cama - assegurava o marido.
- Assim será - anuiu o informador. - Mas ande então o senhor mais desperto e deixe de beber o chá.
Numa noite, fingiu que bebeu o chá que a mulher lhe levou e ficou desperto. Levantou-se sem fazer barulho e seguiu-a até à cozinha, onde ela ali tinha acendido uma vela. Viu-a então besuntar o corpo com uma pomada que tinha escondido num armário. Depois daquela operação, ela comeu um ovo cru com chouriço e disse:
- Avoa, avoa, por cima de toda a folha!
E desapareceu. O homem besuntou-se com a mesma pomada e comeu o ovo e o chouriço. Como ela invocou “por cima de toda a folha”, ele que não era de altos voos, achou por bem voar mais baixinho. Então, por sua vez, recitou:
- Avoa, avoa, por baixo de toda a folha!
Nesse momento o homem saiu a voar pela porta fora e, para seu mal, em vez de voar por cima, voou por baixo, em voo rasante, de modo que o seu pobre corpo roçou por silvas, tojos, ramos de árvores e tudo o que apanhou, antes de aterrar num terreiro onde as bruxas se reuniam. A mulher, ao vê-lo todo arranhado, admoestou:
 - Já que estás aqui, vais beijar os pés a Nosso Senhor!
 Desta vez precavido, o homem olhou para onde a mulher apontava. Vai daí, ajoelhando-se como se fosse para beijar, picou o outro num pé, com uma sovela que tinha nos bolsos, e o Diabo estoirou.

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