Texto e ilustração de Santos Costa
Em Abrantes existia um
casal que parecia ser muito feliz. O homem dizia bem da mulher e a mulher não
dizia mal dele. Não se ouviam discutir, estava tudo aparentemente muito bem
como se aquele fosse o par ideal.
No entanto, alguém
andava a dizer ao marido que a mulher era uma bruxa, mas o homem não
acreditava.
- Ela é tão boazinha que me leva o chá à cama
- assegurava o marido.
- Assim será - anuiu o
informador. - Mas ande então o senhor mais desperto e deixe de beber o chá.
Numa noite, fingiu que
bebeu o chá que a mulher lhe levou e ficou desperto. Levantou-se sem fazer
barulho e seguiu-a até à cozinha, onde ela ali tinha acendido uma vela. Viu-a
então besuntar o corpo com uma pomada que tinha escondido num armário. Depois
daquela operação, ela comeu um ovo cru com chouriço e disse:
- Avoa, avoa, por cima
de toda a folha!
E desapareceu. O homem
besuntou-se com a mesma pomada e comeu o ovo e o chouriço. Como ela invocou
“por cima de toda a folha”, ele que não era de altos voos, achou por bem voar
mais baixinho. Então, por sua vez, recitou:
- Avoa, avoa, por baixo
de toda a folha!
Nesse momento o homem
saiu a voar pela porta fora e, para seu mal, em vez de voar por cima, voou por
baixo, em voo rasante, de modo que o seu pobre corpo roçou por silvas, tojos,
ramos de árvores e tudo o que apanhou, antes de aterrar num terreiro onde as
bruxas se reuniam. A mulher, ao vê-lo todo arranhado, admoestou:
- Já que estás aqui, vais beijar os pés a
Nosso Senhor!
Desta vez precavido, o homem olhou para onde a
mulher apontava. Vai daí, ajoelhando-se como se fosse para beijar, picou o
outro num pé, com uma sovela que tinha nos bolsos, e o Diabo estoirou.
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