Morto o último rei
dos visigodos, era necessário encontrar-se um sucessor, pois o povo temia pela sorte
do império. O conselho dos godos reuniu e ficou decidido consultar o Sumo
Pontífice, uma vez que o trono sem rei fazia com que o reino corresse perigo.
O Sumo pontífice disse:
“Deus revelou-me que
o novo monarca será um homem bom, de ascendência real e virtuoso. Disse-me que
ele vive algures, ignorado, entregue ao amanho das suas terras.”
“Ele estará a lavrar
com um boi branco e outro castanho.”
“Mas será difícil
saber qual o escolhido, pois muitos lavradores lavram com bois dessa cor.”
“E todos os
lavradores têm uma vara, com a qual incitam os seus bois na arada. A todos os
lavradores que forem vistos com bois brancos e castanhos na lavra, incitai-os a
espetar a vara na terra. Se a vara que ele tiver na mão florir é sinal de que
esse é que é o rei dos visigodos”.
Enviou emissários em
sua procura e todos eles seguiam com as instruções: um homem a lavrar com um
boi branco e outro castanho, o qual ele devia espetar a vara dos bois na terra
e, se ela florisse, era sinal de que ali estava o rei dos godos.
Alguns lavradores
encontraram os emissários nas respectivas aradas com um boi branco e outro castanho.
No entanto, quando lhes pediram para enterrar no solo a ponta da vara, nada
acontecera.
“Não me parece que o
rei possa ser encontrado desta maneira” disse um dos emissários. “Como é que
uma vara seca e velha, só porque se enterra a ponta dela na terra, dá em florir
naquele momento?”
“Se é a revelação de
Deus” disse outro emissário “certamente existirá esse lavrador e será ele o
grande rei esperado”.
Depois de muito
percorrerem as estradas e os caminhos, os emissários papais chegaram à região
da Egitânia.
A Egitânia foi o
nome dado pelos suevos e visigodos a uma cidade fundada pelos romanos em território
que corresponde ao Portugal actual, a cidade dos Igeditanos, o que corresponde
a Idanha.
Depois de alguns
dias sem sucesso algum, os emissários encontraram um homem a lavrar com os seus
bois, sendo um deles branco e o outro castanho.
Como já tinham
inquirido anteriormente muitos lavradores com bois idênticos a puxarem o arado,
não se iludiam com esperanças vãs. Porém, era mais uma tentativa, sendo certo
que a questão mais importante se situava na vara que floria mal fosse enterrada
no solo.
Estava um intenso
calor e o homem suava segurando a rabiça do arado.
“Como
vos chamais, bom homem”, começou um dos emissários.
“Chamo-me Vamba, meu
senhor.”
“Esta terra é
vossa?” inquiriu outro dos emissários.
“Sim, é minha. Já
foi dos meus antepassados, de quem a herdei.”
“Por que vos
esforçais nesta vida dura do campo, de sola sol, e ao frio, à neve e á chuva,
como agor sob este intenso calor?”
O lavrador sorriu e
respondeu:
“Adoro a terra e
tudo o que ela dá. Louvo a Deus por me continuar a dar forças para ganhar o pão
para a boca e por me perdoar os pecados.”
“Essa é uma boa
razão, lavrador.”
“Essa é a razão do
meu esforço”.
“Peço-vos, lavrador,
que enterreis a ponta dessa vara que tendes na mão na terra que acabais de lavrar.”
“Se o pedido tem
razão de ser, posso saber qual é?” interrogou o homem, desconfiado pelo
estranho pedido.
“Se fordes o eleito,
aí se tirará a prova.”
“Eleito para quê?”
“Para rei”.
O homem achou ainda
mais estranha a razão do pedido e até pensou que aqueles senhores muito bem
trajados e com ares de serem da corte, quisessem mangar com ele.
“Pois seja como
pedis, meus senhores.”
Ergueu um pouco a
vara e, após alguns instantes com ela no ar, enterrou a ponta na terra. No
mesmo instante, daquele pau seco começaram a aparecer rebentos e a florir,
ganhando folhas. Todos ficaram mudos de espanto, incluindo o próprio lavrador.
“É ele!” gritaram em
uníssono os emissários.
“Este é o novo rei,
o rei Vamba” proferiu com solenidade o emissário que chefiava a expedição. “Acompanhai-nos,
senhor, pois sois vós o eleito de deus para rei dos Visigodos.”
Vamba foi coroado
rei em Toledo. Foi ele que fundou o castelo de Rodão. Depois de ter reinado
alguns anos, de 672 a 680, cortou as barbas e tomou o hábito de S. Bento.
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