Nas margens do rio Alva, no Sabugueiro,
em plena Serra da Estrela, passava um rapaz com o seu cão por um sítio quando
lhe chamou a atenção o que se encontrava sobre um penedo. Eram uns poucos de
figos que ali estavam espalhados ao sol e já se encontravam secos.
Nem de propósito! Ela estava em jejum e
aqueles figos vinham mesmo a calhar para acomodar o estômago, que já estava a
pedir satisfações.
O rapaz ia a lançar-lhes a mão quando
uma voz, vinda do interior do penedo – que devia ser a porta de alguma gruta –
o advertiu:
“Eia, lá! Deixa os figos!”
O rapaz já tinha um figo na mão, mas
largou-o logo.
“E quem é que me proíbe?”
“Dou-te os figos”, retorquiu a voz, “se
me deres o cão ou os safões de pastor que trazes a tapar as pernas.”
O cão deu uns latidos como se
compreendesse o pedido e o destino que lhe reservaria se fosse ele o escolhido.
O rapaz, recuou uns passos e respondeu à
voz:
“Não dou uma coisa nem outra!”
A voz era de mulher, mas não se deixava
ver quem proferia as palavras. Até podia ser algum monstro, um mero salteador
dos caminhos ou, na melhor das hipóteses, um nostálgico desdenhoso que quisesse
mangar com ele.
O estômago que esperasse um pouco mais,
pois aqueles figos podiam trazer alguma coisa ruim. E deitou a fugir daquela
assombração. O cão, sem deixar de ladrar, ainda corria mais.
Ao olhar para trás, enquanto dava às
pernas, viu uma mulher bonita que lhe pedia um beijo:
“Não vás, meu lindo, não vás!”
Ela tinha o corpo dividido em duas
metades que se juntavam num burlesco conjunto: metade era humana e a outra
metade, da cintura para baixo, era de cobra.
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