Texto e desenho de Santos Costa
Um habitante da aldeia de Panóias regressava a casa vindo do trabalho quando foi abordado, no lugar chamado do Barroquinho, por uma alcateia. Os lobos pareciam famintos e, todos juntos, arremeteram contra o homem.
Metendo por entre as pedras e as árvores, sem se dar por rendido de todo, surgiu ao pobre trabalhador um barroco grande e liso, que ele logo escalou, sem saber como conseguiu chegar lá acima.
Os lobos tentaram imitar a escalada, mas por mais que saltassem e arranhassem com as barras o barroco, escorregavam por ali abaixo e não logravam alcançar aquela vítima.
O homem, no entanto, desesperava, pois os lobos resolveram fazer plantão à volta da rocha, uivando e latindo, ainda com arremetidas para a subirem, mas sem sucesso. De fato, não era provável que existisse alguém que pudesse passar por ali e, caso isso acontecesse, esse alguém também seria vítima daquelas criaturas famintas e poderia não ter oportunidade de, como ele, escalar uma rocha salvadora.
O que havia de fazer? Nada. Iria permanecer ali, em provisória segurança, sabendo que os lobos dificilmente desistiriam da guarda à sua presa. Com devoção e angústia, de olhos semicerrados, o homem pediu ajuda ao Senhor dos Aflitos. Com o pedido seguiu a promessa que achou por bem fazer, absorvido naquele fervor que só uma alma aflita consegue agarrar em oração.
Quando abriu os olhos, após ter rezado a última prece, o homem reparou que os lobos se dispersavam, agora silenciosos e calmos, cada um para seu lado, como se os esperasse outra refeição em algures.
Sem lobos à vista, o homem seguiu o caminho até à aldeia e contou o sucedido.
Em honra do sucedido, o povo decidiu construir a capela do Senhor dos Aflitos.
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