Texto e desenho de Santos Costa
Um rapaz de Sortelha, conhecido como Zé do Feijão, encontrou um falcão perdido e apanhou-o. Ficou a saber que essa ave pertencia a um fidalgo que andara à caça e a perdera. O fidalgo oferecia grossa recompensa a quem lhe apresentasse o falcão, vivo; em contrapartida prometia castigo severo a quem tivesse morto a ave.
O Zé do Feijão, perante aquela proposta, pensou nas palavras do seu pai no leito de morte. Tinha o moribundo aconselhado o filho: “Se tiveres um segredo, que não queiras ver espalhado pelo vento que soa, não o contes a ninguém. Não o contes, seja a quem for. Guarda-o, porque um verdadeiro segredo guarda-se no coração.”
Era, pois, chegada a hora de saber se aquela recomendação do pai tinha algum valor. O que fez ele, então?
Guardou o falcão num sítio onde ninguém o visse e convidou um dos seus melhores amigos para jantar.
- Vamos comer carne de falcão - disse ele ao amigo.
Ele então narrou como tinha apanhado o falcão, ainda vivo. Para conseguir pôr à prova o ditado, o Zé do Feijão baixou a voz e recomendou ao amigo:
- Tem cuidado e não fales disto a ninguém.
O amigo do Zé passou a andar taciturno, até que arranjou uma solução, de forma a divulgar sem divulgar. Chegou-se à beira de umas canas à beira rio e em voz baixa desabafou:
- Foi o Zé do Feijão que matou o falcão.
Um pastor que passou por ali, fez uma flauta de uma dessas canas e começou a tocar nela e o som que saía era: “Foi o Zé do Feijão que matou o falcão”.
O fidalgo quis castigar o rapaz. Levado à sua presença para receber a sentença fatal, o Zé do Feijão disse que a ave estava em sua casa, bem guardada e alimentada. O fidalgo gratificou generosamente o rapaz, que via assim cumprido o judicioso conselho do seu defunto pai.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.