Texto e desenho de Santos Costa
Na Rapa, um homem de nome Miguel sonhou que uma moura estava encantada no sítio do Alambique. Foi até lá e efectivamente encontrou uma moura sentada, que tinha ao seu lado muita riqueza em ouro. No entanto, a mulher, apesar de muito bonita, tinha o corpo de uma cobra da cintura para baixo e, de vez em quando, soltava da boca uma língua bífida, igualzinha à das serpentes.
O homem esteve vai não vai para dar meia volta e sumir daquele sítio, mas a tentação da riqueza que lhe aparecia em sonho foi muito mais forte.
-Vem até mim, bom homem - convidou a moura com um largo sorriso. - Podes crer que é para o teu bem.
- Se ele é isso, vou aceitar chegar-me um pouco mais, pois tenho tanto medo das cobras, que me pelo!
A moura recebeu-o com agrado e colocou à sua disposição todas as riquezas que ele via, especialmente um valioso galo de ouro, de tamanho natural.
- Miguel - continuou ela, como se já o conhecesse há muito - esta riqueza é toda tua, mas tens de me deixar meter a língua na tua boca.
Ele recuou, enojado:
- Ui! Isso é que não!
Ela soltou a língua bifurcada e insistiu:
- Não te farei mal, pois quero ser desencantada; e tu, no fim de aceitares o que te proponho, ficarás rico, muito rico!
- Nessa é que eu não me fio.
Vendo que ela queria ser desencantada daquela maneira, deitou-se ao galo de ouro, arrancou-lhe a crista e fugiu, deixando a mulher e cobra a gritar:
- Miguel, ingrato, que dobraste o meu encanto!
Ele nem sequer ouviu as últimas palavras.
O homem tratou de ir vender a crista do galo à cidade da Guarda e aí deram-lhe bom dinheiro por ela.
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