Texto e ilustração de Santos Costa
Quando as trevas caíam sobre
os picos da serra, havia um pastor que se deslocava para um dos cumes para se
encontrar com alguém muito querido. Não se ia encontrar com uma namorada, mas
com uma estrela. Uma estrela que brilhava no céu, como se o fizesse só para ele
e não para os montes e os vales por onde correm os animais.
Depois de se
familiarizar com a estrela, o pastor não passou uma noite, em que o céu permite
a cintilação estrelada, sem que visitasse a sua estrela para falar com ela. O
regozijo fraternal, que estremecia nele e parecia tremeluzir nela, deixava-os
em contemplação mútua durante longos períodos de tempo.
Este costume chegou aos
ouvidos do povo e daí ao rei, que mandou ir o pastor à sua presença na corte.
- Quero que me dês essa
tua estrela! Em troca, dar-te-ei muitas riquezas deste meu reino, à tua
escolha.
Fez-se silêncio. De
olhos pousados no chão, como se temesse a resposta, o pastor ergueu a cabeça e
disse:
- Não dou a minha
estrela, real majestade, nem por todos os bens deste mundo!
O rei não insistiu, pois
viu naquele pastor o grande gesto de quem aceitaria a morte, mas não a entrega.
Deixou ir o pastor em paz.
Ao voltar ao alto da
serra, o pastor encontrou a sua estrela, desta vez guiado por uma melodia que
parecia vir dos céus. Lá estava ela, a brilhar, como que a sorrir-lhe. Ela terá
receado que o pastor a trocasse pelas riquezas, mas ele voltara para ela
repudiando tudo o resto.
- De hoje em diante - disse o pastor - esta
serra vai ter o teu nome e chamar-se-á a Serra da Estrela.
E assim foi, pois o pastor
divulgou aquela fidelidade.
A lenda afirma que ainda
hoje se vê na serra uma estrela que brilha diferente das outras.
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