Texto e ilustração de Santos Costa
Na Nespereira, concelho
de Gouveia, situada na vertente norte da Serra da Estrela, existe a Quinta do
Paço. Ao próprio topónimo da povoação anda ligada a figura lendária de uma Inês
Pereira, que daria Inespereira e posteriormente Nespereira, mas isso é
conjectura lendária.
Pertencente à dita
quinta, existe uma capela de invocação da Senhora da Encarnação, onde se diz
estar sepultado um nobre do tempo de D. João II, que foi combatente deste monarca.
Quando o cognominado
Príncipe Perfeito visitou a Nespereira, no ido séc. XV, foi recebido pelo seu
importante súbdito na Quinta do Paço, possivelmente assim chamada porque foi,
durante breve visita, o paço real.
O rei fez saber ao nobre
anfitrião que tinha sede e este, com todo o respeito por sua real majestade,
mandou vir por um dos seus criados, um púcaro de água fresca e cristalina, que
ele próprio fez tenção de entregar ao soberano. Porém, como estava muito
nervoso perante a visita de tão importante hóspede, inclusivamente com tremura
das mãos – ele, que na guerra, as tinha firmes para a espada – quando ia a entregar
o púcaro nas mãos do rei, deixou-o cair.
Toda a comitiva do rei
desatou a rir perante o incidente, pois se tinha apercebido da atrapalhação do
fidalgo da quinta.
Sem demonstrar qualquer
animosidade, o rei voltou-se para todo o grupo dos da risota para lhes deixar,
à guisa de admoestação, esta sua leitura do acontecimento:
- Saibam todos os da
mofa, que este nobre cavaleiro, que agora deixou cair o púcaro perante o seu
rei, ao seu serviço e nas guerras do norte de África nunca deixou cair a
espada.
Os risos cessaram, até
porque, de entre aqueles que riram, estaria algum que se temera de lutar e que,
nas horas de refrega, desandara para sítio mais seguro.
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