Texto e ilustração de Santos Costa
Houve em tempos uma mulher que era costureira e fazia roupas para as freguesas. Trabalhava depressa e bem, pelo que os seus serviços eram muito requisitados pelo povo.
Aconteceu, porém, qualquer coisa que alterou a artesã e a vida da freguesia que a ela recorria: adoeceu com gravidade e, naturalmente, deixou de trabalhar, silenciando na rua o ruído da sua máquina de costura.
- Coitada dela - dizia uma cliente, lamentando não ter quem acabasse o vestido para o casamento de uma filha.
- Coitadas de nós, também - emendava uma outra -, porque não há por estas terras ao redor quem a possa substituir.
A mais interessada na recuperação da saúde era, como é natural, a própria doente. Os remédios não faziam efeito e a doença teimava em permanecer no seu lar. Até que, certo dia, a costureira se lembrou de fazer uma promessa:
- Se eu me curar, prometo vender a máquina de costura e, com esse dinheiro, distribuirei esmola pelos pobres.
O certo é que com promessa ou não, ela curou-se. No entanto, decidiu esquecer o prometido e nada de vender a máquina ou de dar qualquer esmola aos pobres.
Até que morreu, meses depois.
Não se sabe o que aconteceu à máquina de costurar, mas ficou na memória que ela, depois de morta, andava com a máquina às costas a coser na casa das freguesas. Pelos menos, estas não paravam de ouvir o matraquear da máquina, no cumprimento de um castigo que parecia ser eterno.
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