Texto e ilustração de Santos Costa
A fonte romana de
Leomil, das que se catalogaram pela sua serventia até metade do século passado
como fontes de mergulho constitui, com uma sepultura em pedra ali vista desde
tempos muito recuados, o motivo desta lenda.
Saciado, o viajante
partirá sem prestar atenção à sepultura, que mais não mostra do que o talhe no
granito, que almas caridosas que se prezam vão limpando de líquenes, de folhedo
e de ervas que a possam esconder.
Pois é precisamente na
sepultura ou melhor, por baixo dela, que se encontra o segredo da lenda, que
não se abre com um cravelho, mas com uma argola embutida num alçapão. Por isso,
nada de extraordinário chama a atenção do passante, a não ser o arco milenário
da fonte e, segundo nos avisa a lenda, é bom que assim seja.
Por baixo da sepultura
diz-se que há um alçapão, que se abre com a já sobredita argola de ferro, que
esconde um pote com libras de ouro. Saber isto, é acicate suficiente para a cobiça
fazer de tudo para abrir esse alçapão e retirar o pote ou, não pretendendo a
vasilha, encher um saco com o conteúdo reluzente e dourado.
Engane-se, então, quem
assim pensa, porque a tarefa é mais delicada do que parece e não recomendada
aos expeditos que se aventurem sem saber o que podem esperar.
Diz a tradição que o
pote está lá, mas não se encontra sozinho, pois que uma cobra o guarda noite e
dia – talvez mais precisamente noite e noite, porque não há por ali claridade
no subsolo – com sanha de morder, por assim dizer, com os dentes todos, não
inoculando veneno para um castigo em forma de permuta.
A cobra é uma moura
encantada que está ali, não propriamente para segurar as riquezas do pote, mas
para aproveitar uma oportunidade de se desencantar, deixando no seu lugar
aquele que ela morder.
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