O castelo de
Messejana localiza-se no monte do mesmo nome, que faz parte do concelho de
Aljustrel. O topónimo “messejana” deriva da palavra árabe "masjana",
com o significado de prisão.
Prisão ou não, a
Messejana não deixa de ser um lugar alentejano habitado, principalmente depois
de reconquistado aos mouros por Dom Sancho II em 1235, que até mereceu o título
de concelho, dado pelo rei Dom Dinis, cujo foi desfeito em 24 de Outubro de
1855, pelo Ministro do Reino Rodrigo da Fonseca. Dom Dinis mandou restaurar o
seu castelo em 1288 e doou a vila à Ordem Militar de Santiago da Espada. O rei Dom
João III doou a Messejana a Dom João da Silva, Senhor de Vagosque a fez
transmitir ao seu filho Dom Lourenço da Silva, que reconstruiu o convento para
frades franciscanos e a Igreja da Misericórdia.
O rei Dom Sebastião
visitou este donatário na Messejana e convenceu-o a ir combater no Norte de
África, o que lhe seria fatal cinco anos depois dessa visita.
Para que se não
julgue ser terra de pouca importância, mormente religiosa, a Messejana chegou a
ter 11 igrejas três capelas particulares.
Deixemos a História
e o tal Rodrigo da Fonseca que não respeitou a decisão real, para irmos à
Lenda.
Nessa terra e em
tempos muito idos, estava uma mulher a lavar a roupa quando ouviu um silvo.
Voltou-se e viu uma rapariga em que o corpo se dividia em duas partes: normal
da cintura para cima; tal e qual uma cobra da cintura para baixo.
Esta mulher-serpente,
que se deslocava como as cobras, rastejando e mostrando com frequência uma
língua comprida e bífida, disse-lhe então que era filha do alcaide do castelo
de Messejana e estava encantada. Informou-a que o pai tinha sido primeiramente
encantado como touro, tendo ela acompanhado o animal até ela própria sofrer
aquela metamorfose. E pediu-lhe para a desencantar:
“ Para me
desencantares deves ir, sem medo, limpar a baba a um touro que de ti se
aproximará, pois este touro é o meu pai, que também se encontra encantado. Se
tiveres medo, dobrarás o nosso encanto.”
A mulher não
interrompeu e teve receio de procurar saber mais pormenores.
“Entendeste o que te
peço?”
A mulher não
conseguiu abrir a boca e respondeu afirmativamente com um aceno de cabeça.
“Então faz como te
disse.”
Limpar a baba a um
touro, se bem que não era asseio que lhe agradasse, não era pior do que se
chegar junto ao touro para essa limpeza. Um touro sempre é um touro, que lhe
importava que fosse o pai daquela criatura? Seria mais fácil darem-lhe a
incumbência de limpar o ranho à mulher-cobra.
No dia seguinte,
encontrando-se a mulher novamente a lavar a roupa, aguardou que alguma coisa
acontecesse, principalmente a vinda do tal touro que dela se aproximaria para
limpar as beiças.
Efectivamente dela
se aproximou um touro, escarvando o chão com as patas dianteiras, bufando e babando-se.
Deu duas voltas, sempre com ar fero e sanguíneo, parando de vez em quando para
escarvar o chão, baixar a cabeça e as hastes e resfolegar de modo a fazer levantar
a terra do chão.
“Como é que queres
que te limpe a baba, se me estás a ameaçar?”
Uma voz vinda de
algures, que a mulher não conseguiu identificar, avisou:
“Faz o que tens a
fazer.”
A mulher temeu-se e
esqueceu as recomendações recebidas da mulher serpente no dia anterior. Podia
correr risco de vida, para mais com o temor de ir bailar presa por uma ou ambas
as hastes pontiagudas do bravo animal.
Estava para se ir
dali, fugindo daquele animal bravio sem cumprir a missão. Foi quando o touro,
baixando mais uma vez a cabeça negra deu ares de querer investir.
Perante a visão do
touro nesta nova ameaça, a mulherzinha caiu para um lado, desmaiando.
Ali ficou por tempo
interdito, não se sabe por quanto, parecendo morta. O touro, vendo-a naquele
estado e a baba por limpar, deu duas voltas ainda mais enfurecido e acabou por
desaparecer, ouvindo-se de algures os silvos aflitivos da cobra com aspecto
humano. Pai e filha continuaram assim encantados, não se sabe por quanto tempo,
provavelmente para sempre. Coitados!
Quando a mulher foi
encontrada por familiares e outros populares, que já a faziam ferida ou morta
nalgum declive da serra, não conseguiu articular palavra para dizer o que tinha
acontecido. Instavam com ela, mas só lhe viam os olhos olhar para nenhures,
perdido todo o brilho, como se estivesse em transe. E estava.
“Que terá acontecido
à mulherzinha?”
“Parece que foi
lavar a roupa e caiu para o lado, variando de vez.”
“Pior ainda, foi ter
perdido a fala, que nem sequer sabe dizer quem é e onde está.”
A partir dali nunca
mais recobrou o juízo.
Quanto ao alcaide
encantado em touro e a filha em mulher serpente nunca mais se ouviu falar
deles, pois o encantamento redobrou e não consta que tivessem proposto nova
tentativa a alguém.
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