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segunda-feira, 13 de agosto de 2018

IDANHA-A-NOVA - LENDA DO REI VAMBA

Morto o último rei dos visigodos, era necessário encontrar-se um sucessor, pois o povo temia pela sorte do império. O conselho dos godos reuniu e ficou decidido consultar o Sumo Pontífice, uma vez que o trono sem rei fazia com que o reino corresse perigo.
          O Sumo pontífice disse:
“Deus revelou-me que o novo monarca será um homem bom, de ascendência real e virtuoso. Disse-me que ele vive algures, ignorado, entregue ao amanho das suas terras.”
“E como o reconheceremos?”
 A esta pergunta de um dos membros da Cúria Romana, o papa esclareceu:
“Ele estará a lavrar com um boi branco e outro castanho.”
“Mas será difícil saber qual o escolhido, pois muitos lavradores lavram com bois dessa cor.”
“E todos os lavradores têm uma vara, com a qual incitam os seus bois na arada. A todos os lavradores que forem vistos com bois brancos e castanhos na lavra, incitai-os a espetar a vara na terra. Se a vara que ele tiver na mão florir é sinal de que esse é que é o rei dos visigodos”.

Enviou emissários em sua procura e todos eles seguiam com as instruções: um homem a lavrar com um boi branco e outro castanho, o qual ele devia espetar a vara dos bois na terra e, se ela florisse, era sinal de que ali estava o rei dos godos.
Alguns lavradores encontraram os emissários nas respectivas aradas com um boi branco e outro castanho. No entanto, quando lhes pediram para enterrar no solo a ponta da vara, nada acontecera.
“Não me parece que o rei possa ser encontrado desta maneira” disse um dos emissários. “Como é que uma vara seca e velha, só porque se enterra a ponta dela na terra, dá em florir naquele momento?”
“Se é a revelação de Deus” disse outro emissário “certamente existirá esse lavrador e será ele o grande rei esperado”.
Depois de muito percorrerem as estradas e os caminhos, os emissários papais chegaram à região da Egitânia.
A Egitânia foi o nome dado pelos suevos e visigodos a uma cidade fundada pelos romanos em território que corresponde ao Portugal actual, a cidade dos Igeditanos, o que corresponde a Idanha.
Depois de alguns dias sem sucesso algum, os emissários encontraram um homem a lavrar com os seus bois, sendo um deles branco e o outro castanho.
Como já tinham inquirido anteriormente muitos lavradores com bois idênticos a puxarem o arado, não se iludiam com esperanças vãs. Porém, era mais uma tentativa, sendo certo que a questão mais importante se situava na vara que floria mal fosse enterrada no solo.
Estava um intenso calor e o homem suava segurando a rabiça do arado.
“Como vos chamais, bom homem”, começou um dos emissários.
“Chamo-me Vamba, meu senhor.”
“Esta terra é vossa?” inquiriu outro dos emissários.
“Sim, é minha. Já foi dos meus antepassados, de quem a herdei.”
“Por que vos esforçais nesta vida dura do campo, de sola sol, e ao frio, à neve e á chuva, como agor sob este intenso calor?”
O lavrador sorriu e respondeu:
“Adoro a terra e tudo o que ela dá. Louvo a Deus por me continuar a dar forças para ganhar o pão para a boca e por me perdoar os pecados.”

“Essa é uma boa razão, lavrador.”
“Essa é a razão do meu esforço”.
 Os emissários olharam para a vara que o lavrador tinha nas mãos. Era um pau vulgar, duro, igual a tantos outros que tinham encontrado. Pensaram que aquela seria mais uma das infrutíferas buscas para encontrar aquele que havia de ser rei.
“Peço-vos, lavrador, que enterreis a ponta dessa vara que tendes na mão na terra que acabais de lavrar.”
“Se o pedido tem razão de ser, posso saber qual é?” interrogou o homem, desconfiado pelo estranho pedido.
“Se fordes o eleito, aí se tirará a prova.”
“Eleito para quê?”
“Para rei”.
O homem achou ainda mais estranha a razão do pedido e até pensou que aqueles senhores muito bem trajados e com ares de serem da corte, quisessem mangar com ele.
“Pois seja como pedis, meus senhores.”
Ergueu um pouco a vara e, após alguns instantes com ela no ar, enterrou a ponta na terra. No mesmo instante, daquele pau seco começaram a aparecer rebentos e a florir, ganhando folhas. Todos ficaram mudos de espanto, incluindo o próprio lavrador.

“É ele!” gritaram em uníssono os emissários.
“Este é o novo rei, o rei Vamba” proferiu com solenidade o emissário que chefiava a expedição. “Acompanhai-nos, senhor, pois sois vós o eleito de deus para rei dos Visigodos.”
Vamba foi coroado rei em Toledo. Foi ele que fundou o castelo de Rodão. Depois de ter reinado alguns anos, de 672 a 680, cortou as barbas e tomou o hábito de S. Bento.



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