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sábado, 21 de novembro de 2020

CELORICO DA BEIRA - A MOURA DA RAPA - lenda nº 35

Texto e desenho de Santos Costa

Na Rapa, um homem de nome Miguel sonhou que uma moura estava encantada no sítio do Alambique. Foi até lá e efectivamente encontrou uma moura sentada, que tinha ao seu lado muita riqueza em ouro. No entanto, a mulher, apesar de muito bonita, tinha o corpo de uma cobra da cintura para baixo e, de vez em quando, soltava da boca uma língua bífida, igualzinha à das serpentes.

O homem esteve vai não vai para dar meia volta e sumir daquele sítio, mas a tentação da riqueza que lhe aparecia em sonho foi muito mais forte.

-Vem até mim, bom homem - convidou a moura com um largo sorriso. - Podes crer que é para o teu bem.

- Se ele é isso, vou aceitar chegar-me um pouco mais, pois tenho tanto medo das cobras, que me pelo!

A moura recebeu-o com agrado e colocou à sua disposição todas as riquezas que ele via, especialmente um valioso galo de ouro, de tamanho natural.

- Miguel - continuou ela, como se já o conhecesse há muito - esta riqueza é toda tua, mas tens de me deixar meter a língua na tua boca.

Ele recuou, enojado:

- Ui! Isso é que não!

Ela soltou a língua bifurcada e insistiu:

- Não te farei mal, pois quero ser desencantada; e tu, no fim de aceitares o que te proponho, ficarás rico, muito rico!

- Nessa é que eu não me fio.

Vendo que ela queria ser desencantada daquela maneira, deitou-se ao galo de ouro, arrancou-lhe a crista e fugiu, deixando a mulher e cobra a gritar:

- Miguel, ingrato, que dobraste o meu encanto!

Ele nem sequer ouviu as últimas palavras.

O homem tratou de ir vender a crista do galo à cidade da Guarda e aí deram-lhe bom dinheiro por ela.


 

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