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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

MÊDA


O convento de Vilares ou de Nossa Senhora dos Remédios foi construído em 1447, a cerca de meia légua para ocidente da vila de Marialva e entre esta e Valflor. Era o convento destinado a frades franciscanos de ordem terceira e tinha por devoção precisamente Nossa Senhora dos Remédios.
Naquele convento chegaram a estar cerca de trinta religiosos, ajudando os párocos a confessar e a pregar. Viviam de esmolas.
Extinto o convento, logo se tratou do confisco dos bens patrimoniais, tanto religiosos como artísticos, sendo tresmalhados pelas mais poderosas famílias de Marialva, Carvalhal e Valflor.
Foi numa dessas distribuições que aconteceu a imagem de Nossa Senhora ter sido separada do Menino que se encontrava nos seus braços. Os de Marialva, principalmente as mulheres, queriam recuperar a imagem do Menino, uma vez que na posse deles já se encontrava a da Mãe.
Diziam algumas mulheres:
“É uma esmola e uma bênção ir tirá-lo da igreja de Valflor.”
Vai daí, teceram uma estratégia. Para isso, esperaram um dia festa com procissão em Valflor, altura em que a igreja ficaria vazia.
Três homens de Marialva entraram na igreja sem que fossem vistos e, pé ante pé, cumpriram a sua missão à risca, retirando a pequena imagem e dissimulando-a entre um pano da sacristia. Depois de assim embrulhado, com a mesma pressa e igual desfaçatez, saíram da igreja de Valflor, agora na saída com menos cautelas do que tiveram à entrada.
Talvez por isso, alguém os viu tão furtivos e deu o alarme, juntando-se meia dúzia de homens que lhes tolheram os passos.
Um deles perguntou para o que levava o embrulho:
“ O que levais debaixo do braço?”
O interpelado apenas hesitou alguns segundos e respondeu:
“É um cabritinho para o senhor padre!”
Os de Valflor encolheram os ombros. Podiam querer ver a oferta, mas isso podia ser considerado uma desfeita que faziam ao sacerdote, e abriram alas para os de Marialva prosseguirem caminho, o que estes fizeram a sete pés.
Quando os de Valflor deram conta da falta, desconfiaram de quem tinha sido a proeza, mas os de Marialva mantiveram o Menino escondido durante algum tempo até serenarem os ânimos.


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